Por uma poética “anti-mónica”: Sophia de Mello Breyner Andresen e a(s) representação(ões) do(s) feminino(s)
DOI:
https://doi.org/10.37508/rcl.2022.n48a496Palavras-chave:
Sophia de Mello Breyner Andresen, representação(ões) do(s) feminino(s), poética anti-MónicaResumo
Este texto tem por objetivo analisar a narrativa “Retrato de Mónica” — Contos exemplares —, de Sophia de Mello Breyner Andresen, na tentativa de depreender uma poética que chamaremos “anti-Mónica”. Vale lembrar que, em “Retrato de Mónica”, a personagem nomeadora do título está intimamente ligada ao “Príncipe deste Mundo” — um possível pseudônimo para ditadores nazifascistas. Pois, Mónica, de acordo com a narração, “[...] é o seu maior apoio, o mais firme fundamento do seu poder.” (ANDRESEN, 2015, p. 137). Neste sentido, como a obra de Sophia apresenta um continuum entre as dimensões da estética/ética e da justiça/justeza, isto é, a autora não se nega a dar “testemunho”, à maneira de Jorge de Sena, do seu tempo, Mónica — enquanto representação cristalizada de um certo feminino dentro da produção andreseniana — é a negação dos valores que a poeta visa transmitir. Nesta senda, conforme mostraremos, se obra de Sophia se organiza sobre a negação desse tipo de representação do(s) feminino(s), outras questões surgem: a) qual ou quais seria(m) a(s) representante( s) feminina(s) mais coerente(s) com universo andreseniano; b) qual ou quais faria(m) contraponto(s) à personagem Mónica? Logo, será necessário também analisar poemas como “Catarina Eufémia” e “Maria Natália Teutónio Pereira”, por exemplo. Tais poemas apresentam figuras femininas que, à maneira de Antígona, recusam/recusaram o papel de “fêmea” e lutam/lutaram em nome da liberdade. Por isso, transpuseram a destruição e transcenderam a própria imanência humana: ergueram no vento os seus risos — parafraseando um verso de Sophia.
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