Castilho e a Geração de 70: um “cancelamento” a ser revisto

Autores

DOI:

https://doi.org/10.37508/rcl.2025.n54a1386

Palavras-chave:

Cultura do cancelamento, António Feliciano de Castilho, Teófilo Braga, Sociabilidades, Educação popular, Escrita feminina

Resumo

Entender a cultura atual do cancelamento nas redes eletrônicas é uma tarefa que vem ocupando diversos pesquisadores interdisciplinares contemporâneos. No entanto, a prática do cancelamento não é algo exatamente original do século XXI, já que ocorreu em outros momentos da história cultural, apenas sob outras nomeações e práticas temporais. No âmbito da Literatura Portuguesa, por exemplo, há um caso duradouro de cancelamento que diz respeito ao escritor oitocentista António Feliciano de Castilho (1800-1875), que hoje ninguém mais lê e é considerado taxativamente como uma figura literária medíocre. Cancelamento, no campo literário, significa apagamento, esquecimento, rasura e censura. O caso de Castilho é interessante para pensar como esses processos eram promovidos no passado em que imperava apenas a palavra escrita circulante em livros, jornais e revistas, e quais eram os procedimentos críticos, sociais e mesmo políticos que sustentariam essas formas de cancelamento.

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Biografia do Autor

Ana Comandulli, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) / Real Gabinete Português de Leitura (RGPL) / Universidade de Lisboa

Doutora em Estudos de Literatura (Literatura Comparada) pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com ênfase no escritor António Feliciano de Castilho e sua presença nas letras oitocentistas portuguesas: sociabilidade e difusão da escrita feminina. É pesquisadora do Polo de Pesquisas Luso-Brasileiras do Real Gabinete Português de Leitura, onde desenvolve pesquisa sobre Maria Peregrina de Sousa e António Feliciano de Castilho. É investigadora Colaboradora do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, onde realizou Estágio Pós-Doutoral, sob supervisão da Profa. Dra Vanda Anastácio. Integra os Projetos de Pesquisa Escritoras Portuguesas na imprensa periódica do Brasil: Laços Transatlânticos de ação (1890-1930) – UERJ; Escritoras em Português – página CEC FLUL, Lisboa; e Portugueses de Papel – CLEPUL – Lisboa.

Ida Alves, Universidade Federal Fluminese (UFF) / Real Gabinete Português de Leitura (RGPL) / CNPq

Professora Titular de Literatura Portuguesa, Instituto de Letras, UFF, onde atua como docente permanente do Programa de Pós-Graduação Estudos de Literatura. Pesquisadora do CNPq. Coordenadora do Polo de Pesquisas Luso-Brasileiras, PPLB, sediado no Real Gabinete Português de Leitura. Autora e coautora (organizadora) de diversos livros, capítulos e artigos em revistas acadêmicas brasileiras e estrangeiras sobre poesia portuguesa moderna e contemporânea, além de estudos de paisagem nas literaturas de língua portuguesa. Em 2014, coorganizou com Eduardo da Cruz a coletânea de estudos Para não esquecer Castilho (Niterói: EdUFF), a partir de projeto de pesquisa desenvolvido no acervo de manuscritos do Real Gabinete Português de Leitura.

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Publicado

2025-07-07

Como Citar

Comandulli da Cunha, A. C., & Santos Ferreira Alves, I. M. (2025). Castilho e a Geração de 70: um “cancelamento” a ser revisto. Convergência Lusíada, 36(54), 199–236. https://doi.org/10.37508/rcl.2025.n54a1386